quarta-feira, outubro 05, 2005

Fotoclube e fotojornalismo: dois paradigmas da fotografia em debate

German Lorca e Juca Martins protagonizam o encontro “O social e o estético na trama fotográfica”

Caloroso. Assim foi o encontro dos fotógrafos German Lorca e Juca Martins no Fotopalavra, evento promovido pelo Itaú Cultural e pela Cosac Naify, nessa terça-feira (04). O primeiro é dissidente de uma geração de “fotoclubistas” organizada na São Paulo modernista das décadas de 40 e 50. O segundo firma-se como fotojornalista no conturbado cenário nacional da década de 70. Apenas sob a luz do distanciamento histórico é possível vislumbrar o quanto o trabalho de Lorca tem de documental e o de Juca está influenciado pelo jogo estilístico típico da arte, foi o que sugeriu Helouise Costa, curadora do Museu de Artes Contemporânea (MAC/USP), também presente no encontro.

Observar as fotografias de Juca tomadas na década de 70 é perceber o quanto o fotojornalista estava comprometido com a postura de denúncia assumida pelos intelectuais durante os anos da ditadura. Apreciar a fotografia de Lorca é vê-lo maravilhado diante da cidade que crescia otimista. O conjunto de ambos, lado a lado, deixa claro o quanto seus trabalhos refletem o que lhes era contemporâneo nestes momentos. Conforme colocou o fotógrafo e jornalista Eder Chiodetto, mediador do debate, a fotografia de Juca está para a música de protesto assim como a de Lorca está para a Bossa Nova.

Juca apresentou uma fala apaixonada e vigorosa sobre seu compromisso com a fotografia documental e a defesa pelo poder de informação que ela deve ter. Mas, e a estética, onde fica? “A estética tem importância para a eficiência da informação. O fotógrafo interioriza a estética. Essa elaboração é instintiva”, afirma Juca. Pelo modo como ele elabora a questão, manipular a cena ou fazer interferências na imagem, soa como um crime e é justamente nesse território onde se encontram as fotos de sua predileção: as do Instituto Médico Legal, por serem carregadas de informação.

Do outro lado, Lorca apaixonado e sereno, não demonstra nenhum pudor para interferir na cena mas, nem por isso, considera sua fotografia menos documental. “Uma foto acontece para o fotógrafo ou o fotógrafo a faz acontecer. O impacto visual e a mensagem que a foto produz é o que importa. Se o fotógrafo armou, não interessa”, reflete Lorca. Sobre o assunto, Helouise se posiciona, ao analisar uma fotografia de Lorca, “A verdade da imagem não está na captação do real e sim na interpretação da realidade”.

Cada um tem seu método para extrair da realidade uma fração de segundo que se torna mágica por seu poder informativo ou poético. Juca diz que se destacou no fotojornalismo por estar sempre bem informado. Assim, consegue capturar as melhores fotos posicionando-se no lugar certo e reconhecendo as pessoas que possivelmente farão o que será notícia. Lorca diz que os enquadramentos vêm automaticamente. De tanto fotografar, seu olhar já incorporou as regras de harmonia que compõem suas imagens.

Ainda que eles estejam situados em diferentes paradigmas da fotografia, houve, durante o encontro, um momento de reconhecimento mútuo. Juca valorizou a fotografia de Lorca ao admitir que nela também há informação e Lorca apontou questões estéticas em alguns trabalhos de Juca. Ou seja, ironicamente, é quando um reconhece seus valores na fotografia do outro.

Rafaela Pires

2 Comments:

Blogger wicca said...

opa! assim é bacana! um resumo do que rola no itaú é sempre bem vindo! ; )

quinta-feira, outubro 06, 2005 11:07:00 PM  
Blogger wicca said...

poxa... ja faz tempo...

sábado, outubro 22, 2005 10:00:00 PM  

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