terça-feira, novembro 01, 2005

O brega pelo Braga

Fotógrafo Luiz Braga extrai poesia da visualidade popular

O quinto Fotopalavra, ciclo de encontros com fotógrafos e teóricos promovidos pela editora Cosac & Naify e pelo Instituto Itaú Cultural, reuniu em São Paulo, sob o tema “documentos da subjetividade”, o fotógrafo paraense Luiz Braga, a professora da ECA/USP Dulcília Buitoni e o jornalista Eder Chiodetto, mediador do evento. Braga apresenta um trabalho autoral concentrado na Amazônia e no Pará e caracterizado por cores hiper-realistas. Mas não o verde que predomina na região, e sim o colorido que vem da maneira como “o caboclo tatua com a cor os seus objetos de afeto: a canoa, o barco, a casa; de uma forma a saltar do verde”, observa Braga.

São fotografias que lançam um olhar, para a paisagem e para o povo nortista, que vai além dos estereótipos. Um olhar que não esconde o encantamento do fotógrafo por sua terra e por seus conterrâneos. Enquanto o lugar-comum transforma simplicidade em miséria, Braga mostra a riqueza que pode haver naquele modo de vida singelo. “São pessoas que não vivem no paraíso, mas que estão em paz com seu ambiente, conforme comentou João Cândido Galvão”, diz Braga. É exatamente na compreensão dessa subjetividade que reside o caráter documental de sua fotografia.

Esse aspecto informativo é defendido por Dulcídia: “Suas fotos têm um fundo documental muito forte que não se resolve nas armadilhas fáceis do realismo como a denuncia da pobreza. Ele registra ampliando a capacidade de informar”. A professora segue dispensando teóricos e teorias pois “as cores de Braga falam mais. Nossa percepção é tingida e atingida pela cor”. Sobre o assunto, o fotógrafo diz que não produz pautado na realidade que ali está e por isso não se sente fazendo um trabalho documental.

Braga explica que a Amazônia de suas fotos é um território que está formado dentro dele. “São referências de vida que se incorporaram na minha forma de ver o mundo. Onde quer que eu esteja vou acabar procurando essa minha geografia interior”. Assim, ele vê as cores do Norte em todo lugar e vai aproveitar a estadia em São Paulo para conhecer o Mercado Municipal, onde certamente não terá dificuldade para revisitar sua cidade no cromatismo das frutas e na simplicidade das pessoas.

Rafaela Pires